Tive um deja vu estranho no último domingo, no aeroporto JK.
Ao regressar de Porto Alegre, os alto-falantes do local onde parei para um café tocavam a música “Regina, Let’s Go”, da banda paulista CPM 22 (nem sei se ainda existe ou a quantas anda, mas lembro que o Japinha era nosso colega na Ciências Sociais da USP).
Transportei-me imediatamente para 2001. As tarefas militantes me traziam a Brasília com alguma frequência, e não era raro parar para um lanche em qualquer lugar da rodoferroviária (depois das quatorze horas de ônibus que separam São Paulo e Brasília) e deparar com “Regina, Let’s Go” bombando na rádio.
Nas festas, quando a música rolava, eu gostava de gritar bem alto “eu não vou mais me importaaaaar”. Quando você supera os vinte anos, percebe que cada vez você se importará menos, o que, como tudo na vida, tem um lado bom e um lado ruim. Você se fere menos na medida em que menos se importa. Mas o mundo muda menos também.
Quando era do movimento estudantil, vir a Brasília significava combater as políticas neoliberais de FHC e sua turma, DEM à frente. Greve nas universidades federais, rejeição ao “provão” (lembram?), resistência a todas as tentativas de privatização. Reforma da Previdência e Trabalhista estavam sempre em pauta, mas eles não conseguiram executar – pelo menos, não plenamente.
Agora era eu, numa tarde de domingo, regressando de Porto Alegre, minha cidade adotiva, para a cidade onde vivo, Brasília. O vocalista do CPM 22 continuava a declarar “eu não vou mais me importaaaaar”. Chegou a dar um frio na barriga. Não existe mais aquela MTV que me apresentou essa música. Eu continuo me metendo nas confusões que jorram gás lacrimogêneo e spray de pimenta, que atormentavam a mente da minha mãe naquela época. Voltamos a estar sob fortes ataques a direitos trabalhistas e até a qualquer avanço cívico. A ânsia de destruição parece pior agora, depois de catorze anos de governos progressistas. A dor no peito de sentir-se ora acuada, ora perdida, e sempre indignada, também aperta mais forte.
E, tendo vivido dezesseis anos mais, o verso que incomoda não é “eu não vou mais me importaaaar”. Mas sim aquele que fecha a música: “daqui a pouco é tarde demais”.
A gente precisa se achar logo.
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