quinta-feira, 12 de novembro de 2015

Greve vitoriosa

Aqui não há uma análise política. Há palavras humanas sobre uma ação humana.
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Sempre vou me lembrar do Antônio Cândido dizendo: toda greve é vitoriosa, pela mobilização e pela reflexão que possibilita. Eu era estudante da USP e aquela foi minha primeira greve.

Quinze anos e algumas greves depois, eu continuo aprendendo o sentido daquela frase. Foram vinte e nove dias intensos, preenchidos por discussões acaloradas nas escolas, no comando de greve, nos corredores, pelo telefone (especialmente pelo tal do whatsapp). Preenchidos por sangue, suor e lágrimas, literalmente. Preenchidos por muita paixão, confiança, fé nos ideais, solidariedade, medo, coragem, tudo se alternando ao mesmo tempo agora. As frustrações que vinham de conversas com colegas fura-greve. A vontade de vencer que essas mesmas conversas despertavam, porque se tudo fosse fácil, ninguém precisava lutar. É por isso que lutadores e lutadoras são imprescindíveis: não é fácil, mas alguém tem que fazer. Se não, o mundo não muda.

Guardarei muitas imagens desta greve na minha mente para sempre. A violência policial contra nós no Eixão Sul, quando já nos preparávamos para deixar o local – aquela covardia que marcou a mim menos do que a companheiros(as) que foram presos(as) e agredidos(as), e certamente marcou a história do Distrito Federal. A assembleia que sucedeu esse episódio, com quase 15 mil professores e professoras na Praça do Buriti. Um líder da oposição entrando na escola empunhando a bandeira do Sinpro. A bandeira vermelha do Sinpro tremulando desde dentro da sala da Presidência da Câmara. O baralho feito em cartões de visita para suportar as horas de ocupação. O carro de som em Santa Maria, dirigido por um motorista que não conhecia a cidade e, pensando estar na contramão, disparou na rua, deixando os(as) manifestantes para trás. As professoras grevistas que, ao visitar um Jardim da Infância para convencer o grupo de professores(as) a entrarem em greve, assumiram uma turma de pequenos para que seu professor pudesse ir para a sala de coordenação nos ouvir. A música do faraó simbolizando os desmandos do GDF e da Justiça, mas animando a tarde dos guerreiros e guerreiras que fizeram greve de fome.

Tenho orgulho de ter participado dessa história. Vitórias foram construídas, outras ficaram por construir. E eu não tenho dúvida que o grau de mobilização e de reflexão proporcionado por esta greve não só fazem jus às sábias palavras de Antônio Cândido, como abrem caminho para completá-las: o carinho e os abraços que há entre as pessoas enlaça a luta perfeitamente bem, e faz com que se desfaça no ar a dureza das pedras que nos atiram. É bom demais trabalhar com essa categoria!

Rollemberg que se cuide. Já estamos prontos e prontas para a próxima.


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