quinta-feira, 10 de abril de 2014

Mulheres, música, amizade e força pra todas!

Outro dia vi Roberta Sá num programa de TV, divulgando o show que a Nívea está realizando em algumas capitais, em homenagem ao samba, estrelando: ela, Alcione, Martinho da Vila e Diogo Nogueira. Lá pelas tantas, ela demonstrou um misto de assombro com encantamento ao falar do amor que Alcione sente ainda hoje por Clara Nunes. "Ela sente saudades, fala com carinho", disse. Devia ter parado por aí, porque depois completou: "E olha que é difícil cantoras se gostarem". Riu.

Bastante imprudente o comentário, porque minutos depois ela foi convidada a falar de cantoras/compositoras da sua geração. Então ela não gosta das mulheres que mencionou?

Mais que imprudente, o comentário foi infeliz. Eu, particularmente, rejeito aquele senso comum de que as mulheres estão predispostas a não se gostarem, a disputarem espaço e olhares entre si. Creio que a sociedade capitalista-patriarcal em que vivemos busca nos jogar aí, e legitimar esse processo é o pior a se fazer.

                                                                      Clara e Alcione

Clara Nunes era muito amiga de Alcione (não é à toa que é a voz da Marrom na versão original de "Um Ser de Luz", samba assinado pelo então marido de Clara, Paulo Cézar Pinheiro, junto com dois grandes amigos dela, João Nogueira e Mauro Duarte). E Clara tinha uma relação carinhosa com muitas cantoras do seu tempo, como Elis, por exemplo - que costumava ficar em sua casa quando ia trabalhar no Rio.

Carmen Miranda ajudou a alavancar a carreira de sua irmã, Aurora, que chegou a atingir alto nível de "notabilidade" (foi ela que lançou uma das marchinhas mais conhecidas e mais eternas, "Cidade Maravilhosa"). As duas se apresentaram juntas e sempre foram grandes amigas. Carmen tinha outras grandes amigas no meio, como Elisinha Coelho.

                                                                    Aurora e Carmen

Não é difícil cantoras se gostarem, coisa nenhuma. Especialmente porque este país é repleto de cantoras que, além de belas vozes, têm energia, personalidade e estilos próprios. Adoro ouvir Teresa Cristina e Mariene de Castro e saber que faço parte de uma geração que produziu essas (entre várias outras!) preciosidades. Gosto também de ouvir as vozes de Roberta Moura e Venise Borges (cantoras da banda Mariposas, de Porto Alegre) se combinando e se completando; de ver Pâmela Amaro e Thá Gonzalez (vocalistas do bloco Turucutá, também de Porto Alegre) comandando a festa de milhares de pessoas; de ouvir em Fortaleza minha cantora predileta, Marina Cavalcante, com sua voz que parece uma flauta; do jeito da Ana Reis de cantar sorrindo (que, quando eu cheguei em Brasília, foi uma das pessoas que mais me deu dicas de como encontrar o caminho das pedras)... É muita mulher talentosa neste mundo da música!

Roberta Sá que me desculpe, mas amizade e solidariedade são fundamentais. Para todas as cantoras deste país que se gostam, eu ofereço a alegria comovente de Sá Marina, na força da voz de Elis.


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