quinta-feira, 23 de julho de 2009

Um viva às mulheres do movimento estudantil



Uma demonstração de unidade e de coragem.

A plenária final do 51º Congresso da UNE contou com uma seqüência de falas que não estava disputando nenhuma resolução em específico, nem fazendo a defesa de uma ou outra chapa. Chamavam atenção por mais do que isso: eram vozes femininas, o que ainda é incomum de se ouvir num espaço como aquele. Mais motivo pra prestar atenção: elas representavam as principais forças políticas do congresso e do movimento estudantil como um todo, identificadas com PT, PCdoB, PSOL.

Essa unidade era pra denunciar o machismo do movimento e afirmar que as mulheres seguirão organizadas pra enfrentar e pra propor política para que a UNE, como um todo, enfrente. E elas sabem que, quando as mulheres se organizam pra lutar contra a opressão, a reação vem. Mas estão preparadas e mais maduras pra garantir a luta das mulheres. São vitoriosas desde já por terem protagonizado um momento tão... bonito.

Bonito porque a luta das mulheres é bonita. Porque é emocionante ver a unidade entre tantos setores, em meio a uma disputa que, tantas vezes, é cruel. E porque, ainda que nem todos tenham ouvido ou entendido o que elas disseram, aquelas que, como eu, pararam para ouvir cada palavra, certamente ganham mais fôlego, mais ar, pra lutar e seguir lutando. Não estamos sozinhas.

O ME é cheio de expressões do machismo que permeia toda a sociedade e a universidade. Tem casos de violência – aliás, as mulheres aprovaram uma carta com orientações e métodos de como a UNE deve tratar casos de violência que ocorram em seus fóruns e seus espaços. Tem desqualificação das mulheres que assumem papéis protagonistas. Tem assovios, gritinhos, risadinhas. Tem músicas escandalosamente machistas e palavras de ordem que seguem a toada. Tem xingamentos que só se dirigem às mulheres. Tem homem dirigente que se aproveita dessa condição pra tratar as mulheres como produtos à venda. Tem assédio sexual. Tem pouco espaço pra discutir o feminismo. Tem pouco recorte feminista pros debates gerais. Tem tolerância demais com situações explícitas de opressão.

A próxima executiva da UNE apresentará um desafio pra essas lutadoras que subiram ao palco naquele domingo, 19 de julho. Pra elas e pras demais lutadoras que as ouviam no ginásio, ou que estão nas universidades organizando a luta de todos os dias. O desafio de garantir a presença das mulheres pra garantir o feminismo na UNE.

A informação que tenho é que as chapas que já têm definidas suas indicações para a direção executiva da entidade não se preocuparam em assegurar a presença das mulheres. Um dos eixos das falações das companheiras era justamente ressaltar a importância de se aprovarem as famosas cotas de 30% para mulheres na direção da UNE, que não há. De olhos bem abertos, vamos observar que as teses que se apresentaram ao 51º Conune, embora falem sobre “gênero” nos seus materiais, ainda não vão assegurar que mulheres dirijam a entidade.

Parabéns às mulheres do ME, por essa demonstração de força e de que é possível superarmos diferenças para lutar por justiça e igualdade, que é uma pauta comum a todas nós. Foi louvável a iniciativa, me emocionou bastante. Parabéns a cada uma das que lutam. Parabéns à Lúcia Stumpf, é preciso dizer, que foi uma presidenta da UNE atenta à agenda das mulheres, contribuiu, fez diferença. Não basta ser mulher, tem que ser feminista!

E que no 52º Conune (onde espero não estar... rsrs...), os próximos 2 anos tenham enchido ainda mais de sentido a luta das mulheres militantes do ME. Que seja inaceitável e intolerável qualquer manifestação de machismo. Das repudiáveis musiquinhas da plenária final às agressões de mulheres que ocorrem Brasil afora em espaços do movimento.

A luta sempre continua...

Nenhum comentário: