sexta-feira, 27 de maio de 2016

Não seja cúmplice

É por isso que é necessário um organismo de governo para elaborar, propor, articular e desenvolver políticas para as mulheres.

É por isso que os sindicatos e organizações dos movimentos sociais precisam ter secretarias de mulheres.

É por isso que é inaceitável que não haja mulheres no Ministério.

É por isso que é necessário haver mulheres em número razoável no parlamento.

É por isso que é necessário que haja mecanismos artificiais de distribuir recursos e tempo de TV entre homens e mulheres que disputam vagas no parlamento.

É por isso que existe o mecanismo de cotas e de paridade, que assegura uma proporção mínima de mulheres nas direções de entidades representativas.

É por isso que é preciso falar de gênero nas escolas.

É por isso que você JAMAIS deve desqualificar uma mulher chamando-a de vagabunda, vadia, puta e afins.

É por isso que não tem graça nenhuma fazer piada com estupro ou com qualquer outro tipo de violência contra a mulher.

É por isso que você não pode tratar as mulheres que te cercam como suas serviçais.

É por isso que você NÃO PODE legitimar a violência nem no campo material nem no campo simbólico.

É por isso que você precisa entender que NÃO é NÃO.

É por isso que não adianta compartilhar post ou meme de indignação no facebook, se você não age coerententemente.

É por isso que o governo golpista de Michel Temer é cúmplice de cada caso de estupro e de violência contra as mulheres que ocorre em todo o Brasil.

Não é porque poderia ter sido sua irmã ou sua mãe. É porque foi com ela. É porque é com todas nós diariamente.

É porque não há igualdade.

E é porque precisa haver.



terça-feira, 17 de maio de 2016

Senhor Samba #2 - Estrela de Madureira

Para exaltar a sua arte, que encantou Madureira



Um lindo samba cantado nas rodas de todo o país é "Estrela de Madureira", de Acyr Pimentel e Cardoso, consagrado na voz do grande Roberto Ribeiro. Hoje em dia, mais de 40 anos depois de sua composição, e quase 60 anos depois a morte da sua musa, pouca gente sabe de quem fala a bela letra.

Trata-se de Záquia Jorge, atriz, cantora e empresária. Atuou nas décadas de 40 e 50, com sucesso, no cinema e no Teatro de Revista (formato dramatúrgico muito comum nas primeiras décadas do século XX, tendo revelado grandes artistas). Mas Záquia fez mais: "foi a pioneira" ao erguer o Teatro de Revista Madureira no bairro de mesmo nome, em frente à estação de trem, com a intenção de compartilhar com o subúrbio a cultura que se disseminava pelo centro e regiões nobres do Rio de Janeiro - inclusive praticando preços mais acessíveis para conquistar aquele público.

Záquia e seu marido, Júlio Leiloeiro, empreenderam muitos esforços para fazer vingar a ideia. Segundo conta Nei Lopes, aquele era um momento em que diversas possibilidades se abriam para Madureira nas áreas de Cultura e de Lazer. O Teatro de Revista começava a experimentar sua decadência, mas mesmo assim, a casa foi inaugurada em 1952 com o espetáculo "Trem de Luxo", mencionado no samba. Durante os dias, o teatro abrigou aulas de artes dramáticas. Porém, não sobreviveu à morte de sua "vedete principal".

Záquia morreu vítima de afogamento na praia da Barra da Tijuca, que era muito pouco frequentada na época, deixando marido, filho e uma legião de fãs e amigos. Seu velório no Teatro de Revista Madureira foi acompanhado por mais de 4 mil pessoas.

Em 1975, a Império Serrano, com justiça e com propriedade, homenageou Záquia. O samba escolhido para isso não foi "Estrela de Madureira", mas sim, um samba de Avarese, "Záquia Jorge, Estrela de Madureira, Vedete do Subúrbio", que rendeu à escola o terceiro lugar no Carnaval daquele ano. Entretanto, antes de ambos, houve "Madureira Chorou", samba de Carvalhinho e Júlio Leiloeiro, gravado por Joel de Almeida em 1958.

Pelo papel desempenhado nos palcos, sets e, especialmente, em Madureira, Záquia é uma personagem à altura da grandiosidade dos sambas que a homenageiam.

sexta-feira, 13 de maio de 2016

A volta dos que não foram

É mesmo a volta dos que não foram. Para quem tinha qualquer dúvida, o anúncio do "novo" ministério salda todas. Sem obter nenhum voto, Michel Temer assume "interinamente" e traz para o Governo Federal aqueles que foram derrotados nas últimas eleições, para implantar a sua "Ponte para o Futuro" (sic) que representa pura e simplesmente o programa derrotado nas últimas eleições.

Para mim, que comecei minha militância no movimento estudantil e, duas décadas depois, trabalho com um sindicato de professores, é simbólico e melancólico ver essa figura da foto de volta à cena.

Ao lado do ministro da educação (minúsculo mesmo) recém-empossado, está Maria Helena Guimarães Castro, que presidiu o Inep durante o governo FHC e era mulher de confiança do então ministro Paulo Renato de Souza. Ela foi responsável pela implementação do provão, que eu e tantos combatemos com afinco, denunciando a privatização escondida nas entrelinhas daquele fajuto instrumento. Foi das grandes elaboradoras do projeto mercantilização da Educação que tentaram nos enfiar goela abaixo, especialmente nas universidades, mas nós resistimos, nós o derrotamos e até tripudiamos sobre ele... Até agora há pouco: essa senhora será secretária-executiva do "novo" MEC, que recuperará o sentido que tinha na ditadura militar.



Maria Helena também foi Secretária de Educação em São Paulo, onde nasci - e onde o PSDB vai completar 24 anos de governo: há toda uma geração que nunca viu outro partido governar São Paulo -, e reagiu com toda truculência característica do seu partido a uma das maiores greves de professores da história do estado. Maria Helena, que quis implementar um programa de remuneração por mérito para os profissionais da Educação. Lá, onde a Educação Pública vai de mal a pior, sendo desmontada dia a dia, com professores desmotivados e desvalorizados, e onde estudantes são criminalizados por tentar defender sua escola desses ataques. Lá, onde a verba da merenda é desviada sem nenhuma investigação; aliás, lá, onde toda e qualquer tentativa de investigar alguma coisa é enterrada de véspera. 

Parabéns aos envolvidos por trazerem de volta essa galera das catacumbas.

Quanto a nós... Estaremos onde sempre estivemos. Resistir e enfrentar vocês é algo que fazemos muito bem. Especialmente na Educação.

sábado, 7 de maio de 2016

Imagens mentais

Gosto de lembrar da época em que não existia telefone celular nem internet. As pessoas tinham que cumprir o combinado, porque não poderiam te localizar facilmente para desmarcar. Se você ligava e a pessoa não estava, deixava recado. E não precisava ficar conferindo de tempo em tempo para saber se o recado foi visualizado, não existia essa perspectiva. Se alguém te ligasse e você não quisesse atender, poderia falar pra Maricotinha que eu mandei dizer que não tô. Naquela época, você podia não estar, se não quisesse!

Quanto mais tecnologia, mais pressa. Uma pressa desprovida de sentido, pela inércia da pressa, a pressa de se apressar, de ter resposta, de responder, de entender, de sair correndo e chegar sabe-se lá onde. A pressa dá origem a mais pressa, e quanto mais pressa você tem, mais rápido você chega e de mais velocidade precisa pra continuar. Eta vida besta, meu deus.

Quando não havia a internet, a gente tinha mais tempo para descobrir as coisas.

Para registrar momentos, havia câmeras fotográficas. Os filmes eram de 12, 24 ou 36 poses. Eu sempre me arrependia de não ter comprado o de 36. Ninguém tinha estoque de filme em casa, então, a gente fotografava os momentos especiais. Comprava filme para algumas ocasiões, não para se fotografar diante do espelho. Bom, é bem verdade que também se registravam momentos pouco especiais, porque precisava terminar o filme para poder revelar. Aí lá vinham um monte de fotos triviais, do dia-a-dia mesmo. Quando revelava, passava um tempo e você percebia que os momentos pouco especiais eram muito legais também. E escolhia um álbum bonito pra eles.

A gente fazia mais imagens mentais. Eu guardo na lembrança até hoje algumas cenas que não fotografei. Elas são mais vivas do que muitas que ganharam o papel, até porque eu não preciso procurar por elas quando as quero ver. Hoje em dia, fotografa-se tanto e tão frequentemente que não é possível que essas imagens sejam visitadas depois. Tenho medo que as crianças de hoje em dia não saibam mais produzir imagens mentais.

Quando eu fico cansada, sentindo o peso de tudo, com o coração palpitando todo errado, eu tenho vontade de me esconder nos anos 80 por uns tempos. Não preciso ir morar lá não, eu só queria passar uma semaninha ou duas.