segunda-feira, 17 de dezembro de 2012

Entre a fantasia e a realidade


Os olhos inundados de sonhos
As mãos lavadas de vida real
Vem ele pela rua de asfalto
Como se andasse de pé na grama

Os pés não estão no chão
Não há música ao redor
Ele não sabe dançar
Mas dança.

A brisa não chega ao rosto
O tempo não cede à pressão
Ele não sabe gostar
Mas gosta.

Os olhos têm a profundidade do sempre e do nunca mais
Do desejo irrequieto
Das vontades passageiras contrariadas
Da dança
E do gosto.

Da janela do ônibus, seu olhar se atira
Se lança para a imensidão
Como quem vê muito além da paisagem mais próxima
Certeiro, com rumo
Vagando sem medo

Nas páginas de seus livros
Há a terra do chão,
As pedras do caminho,
A areia que sobra
De tudo que é real.

Mas o olhar guarda o que o real não alcança
Extrapola
Não se perde porque se encontra
Num mergulho.

O trabalho
O outro trabalho
O trajeto
O médico aonde levar o avô.

De tudo se faz espelho
O negro límpido dos olhos
Que se jogam pro mundo
Cantarolantes e serenos.

Monossílabos,
Vocativos,
Interjeições.

O olhar se mantém
De folha em branco
De pé na estrada.
A profundidade atraente do mar à noite.

Eu observo
Como puxada pelo mar
E dispara o alarme
Que há muito calara

Porque é lindamente esquisito
Que alguém transpareça tão vividamente
O sonho e a realidade
E seja, ele mesmo,
A síntese do que não se vê.

Não sei bem se eu o conheci
Ou o inventei
Mas, de uma forma ou de outra,
Ele existe
E isso é muito confortante.

segunda-feira, 10 de dezembro de 2012

Para nunca esquecer



Hoje, 10 de dezembro, é Dia Internacional dos Direitos Humanos. O rosto de Alexandre Vannucchi Leme neste post é para lembrar os tantos mortos, desaparecidos e torturados que a ditadura militar brasileira fez impunemente. Para lembrar que a gente ainda não sabe tudo que aconteceu. Para lembrar que muitas famílias ainda não têm notícias de seus filhos e filhas, ou pais ou mães. Para lembrar que não nos deixam saber. Para lembrar. Para nunca esquecer.

O Alexandre foi estudante de Geologia da USP, dá nome ao DCE da universidade, cuja direção tive o orgulho de integrar. Ele foi morto em março de 1973, era militante da ALN (Ação Libertadora Nacional).

Nunca vou esquecer a carta que os pais dele enviaram ao nosso DCE, aos 30 anos da sua morte, na ocasião de um evento, organizado por nós, que visava a justamente isso: não esquecer. Entre muita coisa profundamente tocante que a carta continha, eles nos pediram: "levem nos seus sonhos os sonhos dele".

Fiquem tranquilos, pais do Alexandre. Até hoje e para sempre, os sonhos dele são os meus. E nós nunca deixaremos esquecer.