quarta-feira, 14 de março de 2012

Erro de Português

(Oswald de Andrade)

Quando o português chegou
Debaixo de uma bruta chuva
Vestiu o índio
Que pena!
Fosse uma manhã de sol
O índio tinha despido
O português.


***
Para o Dia da Poesia.

terça-feira, 13 de março de 2012

Nostalgia - mais um enredo pro samba

Esta letra já tem música, parceria com o camarada Diego Dewes, meu parceiro do violão na Feira de Mangaio. Quem viver ouvirá rm breve! :-)


Nostalgia


Eu que poucas vezes
Olhei para trás
Me pego pensando
Em nunca mais

O que perdi no caminho
Ou sonhei devagarinho
E ficou pela estrada

O que foi só ilusão
Ou nunca teve morada
Em meu coração

Tudo me toma a lembrança
Em tempos de pouca esperança
É desejo de não esquecer
Pra fazer reviver minha missão
Em tanta situação
Que o tempo não deixou morrer

Mas pra não me perder na nostalgia
Tenho sempre a boemia
E as coisas que eu não perdi

É bom lembrar sem chorar
Um lugar aonde voltar
Abraçar o que vivi

quinta-feira, 8 de março de 2012

"Não temo quebrantos, porque eu sou guerreira..."

Da mesma forma que não há um só grande amor na vida de alguém ("o" amor da vida), também não há um só lugar no mundo pra cada pessoa. Atualmente, sinto absolutamente que encontrei meu lugar no mundo. A música e Porto Alegre vieram dar um sentido diferente à minha vida a ponto de transformar muita coisa em mim. Isso não quer dizer que eu sempre andei por aí perdida, sem encontrar meu lugar. Pelo contrário. Tenho a sorte de pertencer a vários "lugares". Isso é muito confortante.

Mas se tem uma coisa que dá sentido a todos os meus lugares e todas as minhas paixões é o feminismo. Este post é para dividir com vocês uma alegria imensa que terei neste 8 de março.


Há exatos dois anos e nesta exata Porto Alegre, peguei meu MTB (registro de jornalista) depois de sofrer implacável perseguição daqueles que deveriam defender os trabalhadores: o sindicato da categoria. Perdoem-me o bom português, mas estou me lixando para o corporativismo deles. Sou jornalista e, como escrevi na ocasião, meu MTB, mesmo antes de existir formalmente, sempre esteve a serviço da luta das mulheres por liberdade e igualdade. É um instrumento de que disponho para contribuir, para ser mais uma em marcha.

Hoje, vou subir ao palco do 512 - rua João Alfredo, 512, Cidade Baixa, Porto Alegre - para marcar o Dia Internacional da Mulher, esse dia tão importante, tão repleto de significados, que traz em si o brilho de cada luta e conquista das mulheres, homenageando as mulheres do samba.



Como Beth Carvalho declarou recentemente, é claro que o samba é machista. Pois se o mundo é, como o samba haveria de não ser? Mas as coisas só mudam na luta das mulheres. Embora ainda haja muito o que mudar, se hoje a realidade é diferente de 50 anos atrás, isso se deve somente às mulheres que resistiram, que não aceitaram passivamente o papel da submissão, que ousaram desnaturalizar a opressão e reagir. Muitas morreram, muitas sofreram represálias de todos os tipos. E mesmo quem abre a boca estúpida para dizer "não sou feminista, sou feminina", deve muito a todas essas que lutaram sem medo. Neste 8 de março, essas aí deviam ajoelhar e reverenciar.

Eu farei isso. Com a sorte de ter ao meu lado pessoas que acreditam na mesma coisa, poderei saudar as mulheres do mundo, as guerreiras de todos os lugares, por meio das mulheres do samba. Que enfrentaram mundos e fundos para fazer valer sua vontade e pôr sua voz no mundo. Que superaram obstáculos ferozes para triunfar. Que experimentaram a desigualdade em sua trajetória, e foram em frente com autenticidade, sem se render a padrões perversos que só aprofundam as injustiças. Que entenderam que sua voz e sua música podem sim contribuir pra mudar o mundo, e a vida de tantas outras que vieram depois, e não precisaram esconder seu nome feminino para assinar uma composição, como D. Ivone Lara teve de fazer.

Peço a benção a Clara Nunes, mineira guerreira, primeira mulher a estourar em venda de discos no Brasil. Mulher como tantas mulheres do nosso país, de origem pobre, trabalhadora desde criança, matando um leão por dia. Destemida, correu atrás de um sonho, passando por cima de caras feias, esteriótipos e preconceitos. Resgatou a diversidade da cultura brasileira, chamou a África para a nossa música, cantou a vida das pessoas. Para quem acha que o povo só se identifica com "ai se eu te pego" e afins, Clara é uma prova viva de que o povo não é bobo coisa nenhuma. Mesmo que a mídia tente forçá-lo a ser, engolindo enlatados descartáveis e enriquecendo mentes vazias todos os anos, a cada verão.


Quem puder ir ao 512 hoje, vai encontrar uma banda que se encontrou exatamente na batalha diária por encontrar seu lugar, e não fugiu do desafio de fazer diferente. Vai encontrar uma cantora feliz da vida, cantando como que estivesse orando. A elas, a todas elas. E especialmente, ao que virá. Mulher tem mais é que carregar bandeira, porque - a história mostra - o mundo depende de que a gente se movimente. Salve o 8 de março! Saravá!

Alcione canta "Maria da Penha".

Clara, a mineira guerreira, grande inspiração.