quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

São Luís e o que a gente devia saber e não sabe


São Luís é o que de mais espetacular você pode ver. Eu não tenho dúvida.

Visitei São Luís, tão despretensiosa quanto a cidade, em janeiro de 2011.

Adoro praia, mas não me sinto bem em cidades curvadas diante do turismo selvagem que assola a costa do Brasil. Não estou cá, eu, culpando as cidades. Mas a tal divisão social do trabalho tem efeitos perversos sob qualquer prisma que se queira olhar.

São Luís é uma parada pra quem quer conhecer os inacreditáveis Lençóis Maranhenses. Mas quem faz dela apenas isso perde muita coisa. Perde tudo.

Sem esoterismo, São Luís é uma cidade mágica. Ela suga você. O centro histórico dela é das coisas mais bonitas de que já tive notícia. Você é transportado no tempo. Parece que você vê a vida que houve, ao mesmo tempo que você vê a vida que há. Os mais ousados e ousadas podem ver o que haverá, perpassando aquelas ruas de paralelepípedos, aquelas ladeiras intermináveis, janelinhas e palácios coloniais.

Os casarões são bem mal-cuidados pelos governos. Senti que, quando vem a noite, aquele lugar dorme como se fosse qualquer esquina. Pecado mortal. São os mesmos governos que também tratam mal seu povo e suas riquezas naturais. Há décadas, inclusive.

São Luís parece flertar com você toda hora. Não pede nada, porque sabe seu valor. Mas chama: aqui é Meio-Norte. E você não entende. Nem quando aquela chuva insistente cai, intermitente, arrogante. "Olhe pra cá", ela diz. E se você olhar, vê muita coisa.

De um povo simpático, orgulhoso e receoso com tua presença, ao mesmo tempo. O lugar de São Luís não é capa de revista de turismo não. O lugar de São Luís é junto daqueles que você não entende bem, mas porque o problema é seu, não do lugar. Não exibe praias exuberantes nem lugares como os que se vê na televisão, exclusivos para turista. A vocação dela é outra.

Eu vi a Casa de Cultura do Maranhão, e mulheres explicando, orgulhosas, uma parte de sua cultura. Eu vi um samba em homenagem a Noel, maravilhoso, mostrando que o Maranhão é Brasil, meio-norte coisa nenhuma. Eu vi reggaes, praias e sons que queriam sua identidade. Eu vi pessoas imponentes falando de sua idade, seu estado, com saudades do que nunca foi, mas sabendo que muito há o que fazer. Garçons, taxistas, recepcionistas, gente que trabalha e observa. O Maranhão não merece as famílias que o aprisionaram.


São Luís, tão modesta e tão despretensiosa, me fez olhar pro que eu precisava ver: o mundo é onde você está. Tive vontade de nunca mais sair. De ficar e virar maranhense. Senti lá, contraditório com um estado que não tomou rédeas de sua história - por enquanto, e não por inoperância de seu povo guerreiro e alegre -, é que você sempre vai poder mudar seu caminho.

São Luís parece que aguarda, simpática e determinada, o momento da virada. Ela sabe bem quem é. Não seria benevolência do destino, nem coincidências históricas. Cada azulejo do "Renascer", cada conversa de taxista, cada reggae, samba, cada conversa de bar, cada carro que adentra as areias de Araçagi, cada artista que aquela terra produz vem dessa inspiração. Se ainda não aconteceu, é porque ali imperam grandes poderes que usam armas desleais. Mas calma. Ali não é deles. E não é seu também, não chegue achando que pode mais.

Não se apavorem se, dia ou outro, o Maranhão virar o centro do que sabemos. Ele cultiva isso há séculos. Nem todo dia se vê a história se cruzando com a esperança. Portanto, se for a São Luís, vá às praias sim, divirta-se com suas peculiaridades, conheça o lindo centro histórico, dance um reggae, veja a lagoa e conheça a gastronomia local. Mas não perca a oportunidade de olhar pra São Luís como uma cidade que te encanta por se saber. Ela se finge de modesta. Mas é só pra testar se você merece estar ali.

PS: Obrigada à querida Ariely Castro pelas fotos.